Pular para o conteúdo principal

João Delfiol Construções

João Delfiol Construções

RETROSPECTIVA DO BLOG

Criado com o Padlet

OS DEDOS DA MOÇA E A MATEMÁTICA

Sou uma pessoa atenta, observadora. Atenta às coisas que vejo e ouço no cotidiano, porque delas surgem idéias para textos, de todos os tipos.



Hoje ao ir até rodoviária, aproveitei para comprar um cartão para recarga de celular, porque não voltaria a passar pela Banca de Jornais para poder efetuar esta tarefa. Até aí nada de mais, um dia comum, atividades comuns, de uma pessoa comum.


Mas o que tem de especial em uma compra de cartão de recarga? Nada, se a história terminasse aí.


Pedi para a moça do caixa um cartão de recarga de vinte e cinco reais, uma coca-cola lata, um sorvete. Para pagar tudo isto, dei trinta reais. Perguntei quanto ficou tudo, ela respondeu “Vinte e dois reais!”. Olhei na tela do computador, vi que ela havia colocado um cartão de dezessete reais, falei que estava errado, porque comprei um de vinte e cinco, mais o refrigerante e o sorvete. Ela olhou os valores na tela. Confirmou que realmente havia errado. Em seguida veio aquilo que me deixou boquiaberta! Para calcular a diferença entre 25 reais (valor do cartão comprado) e 17 reais (valor digitado na conta dela), um cálculo simples, “de cabeça”. Fiquei esperando ela me dizer a diferença... Aí visualizei as mãos dela, abaixo do balcão, fazendo a conta “usando os dedos”. Fez uma vez, disse o valor. Para confirmar o valor proferido, novamente fez a conta, colocou dezessete, em seguida foi contando nos dedos das mãos até chegar nos vinte e cinco! Em seguida, ela me falou novamente o valor que devia acertar com ela, agora com o valor do pagamento correto, como eu demorasse a responder, ela ainda perguntou “A senhora entendeu?”


Entendi!!! Mas não acreditava naquilo que vi, ouvi. Uma moça de uns vinte, vinte um anos, que provavelmente concluiu o ensino médio, por isto está ali, no caixa, trabalhando com dinheiro, o que antes era feito pelo proprietário do lugar, função de responsabilidade, não consiga fazer cálculos simples como este sem usar a calculadora, que não havia ali à mão para ela, nem foi acionada a do PC, portanto ela recorreu AOS DEDOS.


Este tipo de recurso de usar objetos concretos para efetuar cálculos, prática comum entre professores do 1º ao 5º ano, porque as crianças de seis a dez anos de idade, não conseguem abstrair, ou seja, realizar os cálculos mais simples, sejam de “mais ou de menos”, de “vezes ou de dividir” sem usar este recurso, porque o pensamento infantil nestas idades está na fase que denominamos de “pensamento concreto”.


Após esta fase, é necessário que o docente estimule o aluno a abrir mão dos palitinhos, do material dourado, dos dedinhos, dos feijões, etc.


Mas por que isto não aconteceu com esta moça? Não sei! Poderíamos levantar diversas hipóteses, talvez o hábito de usar a calculadora, abrindo mão do uso do próprio cérebro para abstrair, realizar operações; talvez tenha se acostumado a usar os dedos (usa até hoje!); talvez tenha sido daqueles alunos que “estão presentes em corpo” na sala de aula, mas pensando e falando de outros assuntos; talvez os mestres não tenham percebido isto, afinal com trinta e cinco, quarenta, quarenta e cinco alunos na sala... talvez, talvez...


Tive contato com professores que lecionam no Ciclo I, do 1º ao 5º ano, que utilizam dos materiais citados para ensinar a fazer cálculos. Haviam projetos nos quais os professores montavam em um canto da sala um “supermercado”, com caixas vazias de produtos (pasta de dentes, escova, leite, fósforo, etc...) em estantes, carteiras. Os alunos recebiam “dinheiro” de mentira, mas com valores iguais aos de verdade, realizavam compras. Os alunos tinham que comprar, vender, receber o dinheiro, dar o troco. Durante estas atividades o professor realizava as intervenções para ajudar a criança a ir calculando “de memória”, a iniciar este processo de abstração, vivenciando, na sala de aula, a Matemática do cotidiano, esta que usamos na feira, na loja, no supermercado. Onde ficaram estes projetos?


Agora a mocinha está aí, trabalhando, usando uma máquina tão avançada como o computador, mas sem este poderoso auxiliar, precisa usar seu cérebro, a máquina potente, que temos, capaz de armazenar, organizar, apagar informações, aprender inúmeras palavras, línguas; realizar a ABSTRAÇÃO!!!


Será que alguém, um colega de trabalho, um amigo, vai dizer à mocinha que não é mais necessário usar os dedos, que há outras formas de realizar estes cálculos M-E-N-T-A-L-M-E-N-T-E? Espero que sim!

Se quiser saber mais a respeito de abstração infantil, acesse o link abaixo:
http://www.pedagogiaaopedaletra.com/2010/11/24/a-construcao-de-conceitos-matematicos-por-alunos-da-educacao-infantil/

A Revista Nova Escola também tem:
http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e-aprendizagem/pensamento-abstrato-adolescencia-desenvolvimento-juvenil-556079.shtml

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

STAROUP: propagandas, história e futuro da marca

Você se lembra desta marca? Sabe de qual produto? Não?????!!!!!! Pois bem... vou refrescar a memória daqueles que estão nos "enta", dos mais jovens que nunca ouviram esta palavra. Quando eu era adolescente, o que não faz muito tempo, o jeans, que mais se ouvia falar, cujas propagandas eram inteligentíssimas, bem feitas, ainda por cima engajadas, eram da Staroup.  Uma delas foi premiada internacionalmente, porque mostrava o engajamento dos jovens, que eram ousados, corajosos, lutavam contra o regime da época: a Ditadura Militar.  Esta propaganda, famosíssima, ganhadora do Leão de Ouro em Cannes, foi pensada, pelo não menos famoso, Washington Olivetto, da Agência W. Brasil. Quer conhecê-la? Acesse e conheça! Além deste premiado, há outros. Há o comercial abaixo, que mostra a então adolescente, Viviane Pasmanter, no papel da gordinha, que quer usar um jeans da Staroup e faz uma verdadeira maratona para conseguir alcançar seu objetivo. A qualidade do vídeo não é muito bo

O que é o material dourado?

Você, internauta, sabe o que é isto? Provavelmente não. Também não deveria saber, mas uma certa escola particular da cidade colocou isto na lista de material escolar do aluno. Isto é assunto recorrente na mídia todo início de ano: o abuso das escolas em relação ao material escolar. Na semana passada já foi assunto de pauta dos jornais televisivos. Isto não foi veiculado na mídia da região, mas presenciei um pai, que estava fazendo uma via sacra pela cidade à procura do tal material. Eu estava em uma loja de artesanato, quando ele entrou, interpelou o proprietário da loja, que estava me atendendo, perguntou se ele tinha tal material. O dono da loja imediatamente disse que nem sabia o que era isto. Perguntou se eu sabia. Respondi que sim. Falei ao pai o que era tal material, onde ele poderia encontrá-lo. Mas você, leitor, sabe o que é o tal material dourado? Nunca usei este material na escola, pois não é material didático da minha disciplina, nem o utilizei quando era criança

Dicas sobre provas para eliminação de matérias e ENCCEJA E ENEM

Escrevi uma postagem com dicas para concurseiros de primeira viagem, mas analisando os atendimentos diários que faço no meu trabalho, pensei em escrever outro(s) texto(s) com dicas ou orientações sobre outros assuntos, pois mesmo com tanta informação disponível, as pessoas continuam sem conhecimentos básicos, que podem ajudá-las a resolver problemas simples do seu cotidiano, que vão desde onde procurar a informação, como também onde cobrar seus direitos. Para começar esta série de textos, vou falar um pouco das provas para eliminação de matérias. As pessoas buscam muito este tipo de avaliação, na qual, desde que atinjam as médias, eliminam todo o ensino fundamental ou todo o ensino médio. Para quem pretende eliminar o ensino fundamental - Ciclo II (antigo ginásio, 5ª a 8ª série, 6º ao 9º ano atualmente) poderá fazê-lo por meio do Encceja, que é uma avaliação de eliminação de matérias, ou seja, o candidato pode ir eliminando áreas (Linguagens e Códigos, Ciências da Nat